A Transformação da Narrativa True Crime com Hilda dos Santos

Histórias de crimes sempre fascinaram o público, com clássicos como O Silêncio dos Inocentes explorando a psique dos assassinos. Inspirados em casos reais, como o de Ed Gein, personagens como Norman Bates marcaram a cultura pop. A popularidade do gênero true crime não é uma novidade, mas o podcast A Mulher da Casa Abandonada trouxe uma nova dimensão ao fenômeno no Brasil em 2022, capturando a atenção de milhares.

Três anos depois, a narrativa se expande no formato documental do Prime Video, conduzido pelo jornalista Chico Felitti. Ao invés de apenas replicar o áudio original, a série adiciona profundidade ao dar voz a Hilda dos Santos, a mulher que sofreu anos de abuso nos EUA sob condições análogas à escravidão. Com direção de Kátia Lund (Cidade de Deus), o documentário oferece um olhar crítico sobre a figura de Margarida Bonetti, revelando cedo as atrocidades cometidas, para então focar nas consequências do crime e na espetacularização midiática.

A presença de Hilda nos três episódios transforma a narrativa, priorizando sua experiência e emoções sobre a curiosidade pela vilania de Margarida. O documentário evita o tropeço do 'entretenimento de sofrimento', mantendo a integridade da história sem suavizar os horrores do passado. A edição dinâmica e o uso de imagens de arquivo fortalecem essa abordagem, criando um equilíbrio entre o jornalismo investigativo e a narrativa cinematográfica.

A Mulher da Casa Abandonada não apenas complementa o podcast, mas redefine o gênero ao substituir o prazer voyeurístico por uma empatia genuína pela sobrevivente.